Lua Vermelha – 3ªtemporada - Episódio 87 – “O castigo”
Continuação…
Não é preciso ordem para que os vampiros de Sintra e os que a eles se uniram contra Joseph e o seu exército de novos vampiros iniciam a luta. Aproveitam a ligeira vantagem de segundos que lhes foi dada de mão beijada, quando Joseph deu uma ordem que julgou ser aberta a perspectivas, não imaginando que seria respeitada ao extremo. E muito menos pensou que alguém a antecipasse.
- Esqueçam o Alphonzo! – ordena. Lutem! – grunhe, desapontado.
Como que acordando de uma espécie de transe em que se deixavam derrotar simplesmente porque foram ordenados a atacar Alphonzo primeiro, os novos vampiros contra-atacam finalmente, necessitando já de se libertarem da investida dos adversários.
Mas o que deixa Joseph realmente nervoso não é o confronto violento e injusto que está a acontecer, o confronto porque afinal há tanto tempo ansiava, mas sim os quatro que o rodeiam, - ou cinco, ainda está para se certificar – que formam uma espécie de círculo fechado, observando-o, testando-o, provocando-o, imóveis, sedentos de o ver cair e perder a guerra que ele mesmo começou e deu por vencida.
Henrique, Beatriz, Isabel e Luna. Talvez Alphonzo também. Eles não estão ali para o matar, disso Joseph tem a certeza. Todo aquele silêncio, toda aquela paciência existencial, mesmo ali junto ao caos, obriga Joseph a intervir.
E escolhe Beatriz para começar, porque no olhar dela viu duas pessoas. Ela mesma, e Alphonzo dando-lhe o poder que ela não tinha. Joseph não é louco, mas também não é céptico. Ele tem a certeza que Alphonzo está ali, como que um espírito a possuir aquela vampira, de uma forma pacífica, pouco assustadora. E pensando sobre isso conclui que precisamente dessa forma, fazendo com que Alphonzo não interviesse directamente na luta, conseguiram os tais segundos de vantagem em campo de batalha.
- Os meus homens podem até ser uns idiotas, mas eu não! Eu sei que estás aí! – afirma, aproximando-se convictamente de Beatriz, mas dirigindo-se a Afonso.
- Saudades? – responde Afonso, dando-lhe a prova que ele precisava.
Joseph força um sorriso. – De alguma forma soubeste que iríamos primeiro atrás de ti, e não perdeste tempo em arranjar uma forma cobarde de lutar. – olha para Beatriz com desdém. – Ainda por cima, usas uma mulher como escudo! Cobarde! – provoca.
- Achas que um homem com dois metros de altura e costas largas, seria melhor opção? – responde Beatriz, igualmente desdenhosa, e nota-se uma ligeira diferença na voz, e na expressão.
Os irmãos são distinguíveis. E ambos notam um certo receio por parte de Joseph, ao assistir à mudança.
- Cobarde?! – intervém Afonso, e nota que Joseph fica então altamente desconfortável com a sensação de falar para duas pessoas que parecem estar no mesmo corpo. – Estou a proteger a minha família de ti, e vou ter sucesso. Por isso, antes um cobarde, que um hipócrita.
O vampiro afasta-se inconscientemente daquela situação. Ao desviar o olhar, tenta perceber o que se passo fora daquele círculo construído à sua volta. E sem se dar conta, aproxima-se perigosamente de Isabel.
- Explica-me! – pede Isabel, quase cantarolando, numa postura enérgica. – Como é que consegues odiar a tua própria espécie desde o inicio, e ainda assim teres a paciência – e estupidez! - de viver séculos para criar uma versão ainda mais perigosa da mesma? Hum?! – insiste. – Seria tão mais fácil se assumisses o problema como unicamente teu, e o resolvesses! – insinua.
- Um sacrifício, por um bem maior! Apenas isso! – justifica, olhando-a de alto, acreditando realmente nas suas razões e no seu posto de salvador do mundo.
- Que bem maior? – ela goza.
- O fim dos vampiros. – diz ele, breve e falando claro.
- O fim? – interrompe Henrique, num gargalhar sarcástico. – Criando novos vampiros, pretendes o fim dos vampiros! – resume, saboreando o momento de troça. – Desculpa-me, a minha inteligência não dá para tanto…
Joseph ignora-o e torna a dar voltas a si mesmo. Lembra-se dos Naturales e de como adoraria saber onde estão agora. Abandonaram-no, como toda a gente na sua vida, aliás. Como lhe daria jeito que não o tivessem feito. Pensa na possibilidade de estarem com Afonso, “Mas onde e como?”, questiona-se.
- Estás preocupado? – interfere Luna. – Coitadinho… Deve ser difícil! – finge pena, e como finge bem. – Até as… “aberrações” te deixaram! – atira, agora sem dó algum. – É isso que pensas deles, não é? De nós?
Mas o novo vampiro não lhe dirige o olhar sequer, permanece em busca de entender o que se está a passar na verdadeira batalha. Os seus estão a lutar bem, a defender-se, consegue ver, e já morderam dois ou três vampiros, que não viverão muito mais, portanto. Mas repara também que os vampiros, os naturais, estão mais fortes do que seria normal, estão a dar resposta, perfeitamente à altura das suas criações. E então lembra-se de Beatriz, e de Afonso. E olha para o chão, pensativo.
- Não te preocupes, eles também estão a lutar! – esclarece Luna, ao mesmo tempo que os pensamentos de Joseph fluem. – Não a teu favor, mas…
- A lutar como cobardes! – segue-se Beatriz. – Ser cobarde é uma estratégia de combate, hoje em dia, sabias. – conclui, numa indirecta ao mundo, e ri.
Joseph dá a volta.
- Chega! – grunhe de raiva, e atira-se ao pescoço de Beatriz, apertando-o, como se tentasse chegar até Afonso com isso.
A vampira apenas sorri, fitando o olhar feroz da criatura e libertando-se seguidamente sem esforço, num golpe firme, atirando-o contra o chão.
***
Nesse mesmo instante em que Joseph cai no chão, ouve-se um grito familiar. Francisca está em apuros e Luna afasta-se imediatamente do círculo para ir em seu socorro.
Não leva muito tempo até chegar junto da vampira, e num golpe de vontade afasta a criatura que a atacava para alguns metros dali, ouvindo o impacto de algumas partes do corpo da criatura partindo no chão. Nesse momento, Luna revelou o seu lado mau, ao orgulhar-se do som de ossos a estalar.
Mas é com assustadora rapidez que torna a ser amável.
- O que aconteceu? – pergunta.
- Nada. – responde Francisca com a voz a tremer de medo, e outra para além da sua. – Estamos bem.
Ambas estão de costas uma para a outra, protegendo-se e andando em círculos. Luna nem se apercebe, quando Francisca puxa a manga do seu casaco de malha escuro até à ponta dos dedos, e pensa para com o espírito Naturale que lhe dá forças, que não diga nada a ninguém.
- Como estão as coisas com Joseph? – questiona, nervosa.
- Como planeámos! – garante a ruiva. – Vai buscar o teu punhal, eu protejo-vos. – avança Luna.
E Francisca corre em busca de uma arma perdida na grama verde.
***
- O quê que querem de mim? – grunhe Joseph, levantando-se ainda do chão para fazer frente aos adversários. – Ainda não me mataram porquê? Vamos! É isso que querem, ou não?
- Tu sabes bem que não. – provoca Henrique, observando descontraidamente as estrelas.
- Pois sei. – assume. – Antes, vocês querem saber tudo, não é? Querem conhecer os meus planos… - fita-os, um a um. – Pena que eu não tenha nada a dizer.
- Nada mesmo? Que é tudo “por um bem maior” …. – refere Isabel, imitando-o na parte do “bem maior”. – Isso já se sabe! - garante. – Mas não chega! – avisa. – É bom que arranjes mais qualquer coisa…
Distraído a interpretar a provocação de Isabel, e recordando as alianças que fez com vários “Jaguar” antecessores dela, Joseph é empurrado brutalmente contra ela, por Henrique. Isabel, sábia do que está a acontecer, controlou os movimentos do corpo surpreendido de Joseph, e segura-o agora de frente para Henrique, exibindo um punhal encostado ao seu pescoço.
- Diz-me! – pede Henrique com bruta exigência. – Como exactamente pensas terminar tudo? – e olho-o nos olhos, como se fosse possível invadir-lhe a alma. – Quando já não houver vampiros, o que acontece aos que tu criaste? A ti, e a mim?
Isabel fere ligeiramente o pescoço de Joseph. Beatriz e Afonso observam, num misto expressivo de emoções, satisfação dela e apreensão dele.
- Então é isso! – lança um sorriso. – Vocês querem saber o que acontece quando já não houver vampiros para alimentar as minhas criações… - conclui, com prazer nisso. – Idiots! – profere, no seu inglês altivo. – O sangue humano irá saciar-nos por uma ou duas semanas, pouco mais. Com o tempo vamos enlouquecer, fraquejar, provavelmente matarmo-nos uns aos outros… - resume, prevendo a angústia nas almas de Henrique e da sua familiazita. – Em suma, vamos morrer também! – termina, feliz.
A verdade, é que o horror passou mesmo pela cabeça de Henrique, e um medo terrível pela de Beatriz, tal que quase afastou o poder de Afonso, o irmão que protege e que a protege.
Com ódio, Isabel torna a ferida no pescoço de Joseph um pouco mais profunda, e sussurra-lhe algo ao ouvido.
- Queres saber por não te matamos? – questiona. – Não há pior castigo para ti, que o de viver amarrado à natureza de vampiro. E para te ver viver, vamos até ao fim do mundo, meu querido… - goza, numa quase sedução, maléfica.
- Não vai ser preciso ir ao fim do mundo! – uma voz feminina, jovial, que apenas Afonso reconhece, surge. – E olha, Jo, pena que tenhas preparado todo esse discurso. E que o tenhas proferido com tamanho drama. – é Aurora, a única Naturale que se revela, pois não estava entre eles até agora. – Logo agora que encontrei o antídoto e sei como reverter o que fizeste!
Continua…
LEMBRETE: Não se esqueçam! Esta fanfic termina com 90 episódios! Está quaaaseeeeee! :D