Lua Vermelha – 3ªtemporada - Episódio 57 – “Demónios”
Continuação…Os propósitos de toda aquela conversa fiada de Beatriz são mais do que evidentes.
Consistem em lançar a pessoa num mar de dúvidas; fazê-la questionar-se sobre os seus actos e anseios; e envergonhar-se deles, talvez! Mas o ponto cimeiro da intenção é o atingir de um arrependimento por acções que ainda não foram cometidas, ou não terminadas.
Beatriz só quer impedir aquela bela e forte jovem, cuja alma está consideravelmente mais limpa de sangue que a sua, de terminar o que começou.
E Isabel está a par de tudo isso. Naturalmente, cedeu aos propósitos da vampira, afogando-se em dúvidas, questionando-se, mas, mesmo antes de aceitar o arrependimento, atreve-se a questionar antes a atitude da ex-líder, em vez da sua. Uma atitude demoníaca consome-a e disso não se apercebe ela.
- Dito assim, parece simples e justo deixar viver almas medíocres, pois, afinal, a morte não é mais do que um descanso eterno… - começa, voltando a manifestar-se ódio na sua postura. – Acreditas mesmo nisso? – atreve-se a questionar.
Parece-lhe agora que subestimou o lado obscuro de Isabel. A vampira enfrenta aquele olhar negro intimidante que nunca julgou algum dia vir realmente a temer. Não lhe passa pela cabeça ter medo de Isabel e muito menos tem medo por si. Na verdade, Beatriz teme as ações e as consequências de um instinto malvado que cresce na jovem à sua frente.
- Isabel… - pronuncia, como se chamasse pela alma de alguém que não está verdadeiramente ali, e deveria.
- Se acreditas mesmo nisso… - continua a filha do último verdadeiro Jaguar. – Porque não deixaste o meu pai viver? E o meu irmão bastardo…? E todos e quaisquer seres que sei que um dia mataste… - enumera, concentrando-se em Beatriz, aproximando-se ameaçadoramente. - Desde almas medíocres a inocentes, Beatriz! Quantos foram?
A ex-líder nunca acreditou em histórias que de tempos a tempos lhe chegavam aos ouvidos sobre demónios que possuíam os corpos de almas inocentes, mas no instante, vendo Isabel investir contra si, uma Isabel que não é realmente a que sempre conheceu, Beatriz poderia jurar que estava a ser atacada por um demónio e não pela mulher por quem o seu “irmão” se apaixonou perdidamente. Aquele olhar negro, aqueles punhos cerrados, aquela troca de palavras…
…
A sorrateira saída de Henrique, Jasmine, Brian e Victorious daquela espécie mal imitada de masmorra, esperava-se atribulada. Felizmente, e inesperadamente, alguma coisa, ou alguém, no interior do casarão atraiu os dois vampiros que contestavam a presença sossegada de Sandro no exterior, e que até o provocaram momentaneamente com piadas secas, esperando conseguir arrancar alguma coisa do rapaz.
Vendo Sandro entrar na mansão com os dois capangas que o chateavam, Akira faz sinal aos quatro e junta-se a eles à saída. Velozes, depressa se infiltram novamente no tédio da normalidade quotidiana da mansão, entre todos os outros.
É noite.
Entram na mansão, necessariamente discretos, embora a sua presença seja sempre algo a considerar importante de notar pelos moradores daquele lugar, e separados à vista de quem não os observa com perspicácia. – Henrique não se lembra de alguma vez ter sido tão discreto, nem tão prudente… Na verdade, pensa muito sobre isso, ultimamente! Estará a mudar? Será a idade? Que horror, não … – Reparam imediatamente que quase toda a população residente se encontra reunida num único salão e cedem aos caprichos da curiosidade quando vão averiguar.
O grupo reencontra-se novamente. Em silêncio, percorrem o salão ao encontro uns dos outros, ignorando os olhares dos restantes.
Ali dentro, aqueles seis são mais que um grupo, mais que amigos imediatos e já todos ali perceberam o perigo ou a sorte que isso lhes pode trazer.
Ali dentro, os seis mais novos são uma família e, ou fazem deles aliados, ou podem estar perdidos!
Sandro encontrava-se já entre os restantes. Sozinho na multidão, juntou-se imediatamente à família, mal viu o primeiro deles entrar na sala.
Os seis foram entretanto rodeados por todos os outros, como se se formasse uma barreira à volta deles, sem qualquer saída. Sem violência explícita, o espaço encolhe à volta deles e isso torna-se quase constrangedor… Mas pior! Sufocante!
Aqueles tipos parecem cada vez mais bem preparados para ingressar num exército. – Henrique pensa cada vez mais na hipótese…
No entanto, o sujeito que toma conta de toda aquela inesperada e inexplicável reunião de super-vampiros não está presente. Ainda…
- O quê que está para acontecer? – questiona Brian, sem deixar desvanecer o encanto da sua postura indomável.
Ninguém responde…
O grupo troca olhares entre si. Só Henrique se mantém afastado dessas cumplicidades da irmandade, parecendo ele enfrentar num silêncio descomunal e um olhar verdadeiramente desafiador apimentado com um sorriso sarcástico, um grandalhão mesmo ao seu lado que, acredita, parece querer espancar alguém com urgência.
Os dois desafiam-se, desconhecidos e ambos com vontade de soltar uns murros. Já todos os observam. E Henrique repara, só agora, que aquele sujeito com ar de Hulk demoníaco não era assim tão grande há uns tempos… Ou talvez anteriormente nem sequer tenha perdido tempo a olhá-lo…
…
A jovem Pilar está lá também, atrás de todos, recatada mas presente e sem tirar os olhos daquele grupinho ao centro. Martha aproxima-se e as duas vampiras trocam expressões de cumplicidade, selando uma amizade ainda mais verdadeira, agora na total partilha da realidade de cada uma.
A conversa que tiveram foi longa, mas esclarecedora. Temem o pior, e conhecem os perigos que podem vir a enfrentar e que, certamente, encararão, mas agora… Já não estão sozinhas!
- O que é tudo isto? – pergunta Pilar, mexendo apenas os lábios.
Martha faz-lhe um gesto com a mão, indicando uma das portas de saída daquele salão e Pilar percebe que, seja lá o que for, não serão necessárias ali.
- Sei que o Joseph vai perder algum tempo com eles… - revela, Martha. – Para uma última conversa! – completa, esperando que amiga saiba já do que se trata.
- Tal como fez connosco… Com todos aqui! – conclui Pilar.
- A típica lavagem cerebral… – sussurra Martha num murmúrio triste, enquanto ambas se afastam o mais possível do salão e, claro está, de tudo o resto.
Ninguém sentirá a falta delas, não só porque não são as únicas em falta na reunião, mas também porque aparentemente elas são das pessoas mais fiéis a Joseph, por ali.
E essa lealdade que têm expressado e reforçado perante o rei daquele castelo, é o trunfo que ambas sabem ter a seu favor!
- Poucos suportam… – recorda Martha, revivendo a memória dos dias a fio que se fechou sobre si mesma, a chorar por tudo o que Joseph lhe mostrou.
- E ele está a melhorar com o tempo… - comenta a outra, com desânimo. – Ele pode revelar muitas verdades, mas também inventa muitas mentiras para conseguir o que quer!
- Ele acredita que é o melhor para todos! – recorda Martha.
- Porque acredita que somos como ele, apenas por isso… – termina Pilar.
Certas de que caminham sozinhas naquele relvado, confiantes e astutas, as duas afastam-se como relâmpagos daquele lugar, penetrando na floresta que o envolve. Desaparecem…
…
Numa tentativa bastante falhada de retribuir o sorriso sarcástico, tão único, que o jovem vampiro lhe lança, o grandalhão sorri e abandona o desafio mútuo.
Henrique não apreciou nada aquele gesto, tal como não está a tolerar da melhor forma aquela estranha e desconfortável barreira de marionetas à sua volta. É óbvio que os estão encurralar… É claro que lhes vai acontecer alguma coisa…
Finalmente, ou infelizmente pela quantidade de preocupações que isso possa trazer-lhes, ouve-se a sonora elegância da chegada Joseph.
Continua…
AVISO: DEVIDO A PROBLEMAS TÉCNICOS NA EDIÇÃO DE POSTS TERÁ DE SER ADIADA A PUBLICAÇÃO DE "VIDA DE VAMP: Amores Platónicos".
- PS: Gostaram do episódio?
Bjs <3 a autora