Lua Vermelha – 3ªtemporada - Episódio 69 – “Reagir”
AGORA!
Continuação…
Depressa chegam mais vampiros ao local. A comunidade quase toda reúne-se ali, e à medida que se vão aproximando, a surpresa instala-se.
Francisca permanece junto de Henrique, abraçando-o cuidadosamente e mantendo um diálogo simples. Assim que chega, Mais Antigo junta-se a ela, questionando-a e certificando-se de que Henrique está consciente, isto é, vivo e nada perigoso . Beatriz pára de chorar compulsivamente para ficar num estado de choque que a deixa imóvel. Mais ninguém se atreve a intervir…
A não ser Isabel.
- Henrique? – murmura, questionando-se, mal acreditando no oportunismo do destino. – O que aconteceu? – pergunta, começando a olhar em volta, procurando por algo, ou alguém.
Para duas pessoas ali não existe mais nada para além da forma como reagem. Beatriz que vê Henrique deitado na terra seca depois de o esfaquear. Isabel que vê Henrique e não vê Afonso. A primeira que não se atreve sequer a mexer um músculo, temendo qualquer coisa. A segunda, cuja energia explode num estado de histerismo, procurando por quem não está.
- O Afonso? Veio contigo, Henrique? – questiona, às voltas entre os presentes. – Afonso! – chama, com a respiração acelerada.
Rápida, louca por respostas, Isabel atira-se para junto do ferido, afasta violentamente Francisca e ocupa o lugar de Mais Antigo, agitando o corpo frágil deitado à sua frente e implorando-lhe respostas.
- Onde está o Afonso? Diz-me! Onde está o Afonso?
Henrique não responde. Francisca tenta protegê-lo. Mais Antigo agarra Isabel, obrigando-a a afastar-se, erguendo-a, parecendo realmente segurar um doente mental sem noção que, entretanto, começa a chorar compulsivamente.
- Eu quero saber! – grita. – Onde está o Afonso?
Ainda com dificuldade em respirar, e uma dor aguda na garganta, Henrique murmura uma resposta sofrida e confusa, engasgando-se com as palavras.
- Não sei…
Um breve momento de silêncio, enquanto Isabel digere a informação.
- Não sabes… - murmura, decidindo qual a melhor forma de reagir a essa verdade. – Não sabes? – repete, num grito de indignação.
- Acalma-te, Isabel! – implora Francisca, conseguindo fazer sobressair a sua voz. – Ele está frágil e… e confuso… - tenta explicar, incrédula com a incompreensão de Isabel.
- E o Afonso? Como é que ele está? E onde? – insiste a jovem, esperneando, ignorando que Mais Antigo é obviamente mais forte e não deixará escapar.
James decide intervir, aconselhando Mais Antigo a afastar Isabel do local.
- O rapaz já denunciou algumas falhas de memória, está ferido, confuso, não é aceitável que alguém, ainda que com razões próprias, piore a situação… - com o seu discurso de psicólogo, consegue o consentimento de todos sem esforço, e duas pessoas oferecem-se para tirar Isabel dali.
- Eu só quero saber onde está o Afonso! – esclarece Isabel, parecendo mais calma. - Não admito que me tratem como uma louca! – avisa, olhando James com algum ódio, enquanto lágrimas deslizam rápidas pela sua face.
Enquanto a agarram, tenta desenvencilhar-se, mas sem sucesso. São dois dos vampiros mais poderosos ali, Isabel teria hipóteses se não estivesse tão obcecada pelo facto de ver ali Henrique, e este não saber de Afonso, no mínimo.
- Falo contigo mais tarde, Isabel. – garante, compreensivo. - Não a tratem como uma louca… - pede James, algo irónico no momento errado.
Os dois vampiros usam a sua força e velocidade, e alguma falta de consideração que os deixa ignorar o sofrimento da rapariga, para desaparecer com Isabel em menos de nada.
- Talvez alguém devesse levar a Beatriz daqui também! – sugere Vasco, olhando-a com duvida. – Em oposição a Isabel, ela não está a reagir… - observa em análise.
- Chama-se “estado de choque”, e também não é nada bom… - James concorda.
Após o sinal positivo de Mais Antigo, duas pessoas aproximam-se de Beatriz, cometendo o erro de a querer agarrar tal como outros agarraram e levaram Isabel.
- Toquem-me, e nunca mais tocarão em nada na vida! – pronuncia, numa ameaça. – Só saio daqui com ele! – referindo-se a Henrique, falando quase sem se mexer, sem sequer desviar o olhar.
Respeitadores, algo apreensivos, obedecem.
- Vânia…? – James repara também na expressão assustada da jovem, que se encontra ao lado de Beatriz, e prepara-se para lhe oferecer a ajuda que a ex-líder recusou.
- Estou com a Beatriz! – avisa a jovem.
Mais Antigo poderia aceitar a exigência das duas, mas para isso havia de ter aceite também a compreensível presente histeria de Isabel.
A única preocupação ali deve ser somente o estado Henrique e de mais ninguém.
- Eu compreendo, mas seria melhor se seguissem o exemplo da Isabel… - calmo, profere Mais Antigo.
Beatriz finalmente move algo em si: o olhar, que se revela indecifrável.
- Qual exemplo? Ela foi arrastada! – lembra, honestamente solidária com Isabel. – Dispenso isso!
O silêncio permanece, e a tensão que se gera promete algo mais.
- Reagiu! – festeja James, quase discreto.
- Talvez devêssemos antes, sair todos daqui. – Mais Antigo reformula a sua vontade, enquanto faz sinal a dois vampiros para que carreguem Henrique, com estremo cuidado. – Vão na frente por favor, garantam a nossa segurança… - com astúcia, Mais Antigo dirige-se à comunidade presente, incluindo Beatriz e Vânia, e consegue que estas sigam com os restantes, afastando-as com o pretexto da “segurança”.
Antes de partir, a incentivo de Vânia, Beatriz resmunga qualquer coisa imperceptível.
…
Não faz ideia de como o fazer. Isso deixa-o desconcentrado, e em pânico. Relembra a sensação de quando lhe sugaram toda a energia, e pondera, se deverá arriscar.
Pois o problema não é o risco, é a consequência. A questão não está em fazer, está em como fazer. E tudo o que tem de fazer é reagir.
As vozes na sua cabeça começam a desvanecer-se quando Afonso se concentra apenas nos seus pensamentos e na forma como deve executar a sua ideia.
Aquela pequena amostra de poder e sofrimento que lhe deram parecia tão real, que pode muito bem significar a sua única saída dali. Mas porque iriam eles disponibilizar-lhe uma pequena forma de contra-ataque? As vozes voltam a fazer-se soar e Afonso percebe que está a autodestruir-se, a subestimar as suas próprias capacidades.
Então concentra-se naquela sensação novamente. No calor do poder, na dor do sofrimento, tenta encontrar algo a que se agarrar. Depois de O agarrar, tentará sugá-lo para si.
- Que coisa mais ridícula, o que estás a tentar fazer? – a voz intensifica-se. – Reagir?! – uma gargalhada ecoa.
Afonso esforça-se por ignorar. Mas qual o ser que fica indiferente uma luz forte que se aproxima, e que cega.
Imediatamente depois da luz cegante, Afonso encontrou-se deitado num manto de relva macia… Outro sonho.
Quando se ergue, para se sentar e observar os arredores, vê-se no centro de um círculo perfeita, formado por gente que medita, tranquila, de perna cruzadas. Gente demasiado semelhante a Luna.
O primeiro a abrir os olhos, de um verde tal quanto o da relva que pisam, mesmo em frente a Afonso, é também o único que fala, por enquanto, e a sua voz não é estranha.
- Aquilo era uma ilusão! – clarifica, poderoso e entretido. – Mas a tua adorável esperança e persistência deixou-nos curiosos para te ouvir! – revela, sincero. – Tens dois minutos! – avisa. - Não os desperdices, Alphonzo…
Eles são magníficos. Tal como Luna, parecem-se mais com anjos do que com seres malignos. E Afonso esperava tudo menos uma reviravolta pacífica neste momento.
Tem apenas dois minutos. E a esperança de encontrar um fundo de razão e bondade naqueles corações.
Dois minutos para os fazer reagir. Reagir a seu favor.
Continua…
[Boa noite! Espero que tenham tido uma ótima leitura... :D Ainda esta semana, revelarei o titulo do próximo episódio! Até lá, deixem a vossa opinião e/ou sugestões...
Bjs <3 a autora]