Lua Vermelha – 3ªtemporada - Episódio 70 – “Dou a minha vida!”
Continuação…
- Tudo o que eu quero é a segurança e felicidade da minha família! – inicia, convicto. – Todos eles! Incluindo os vampiros! – completa, só para não deixar dúvidas. – Eu quero salvar a minha filha do que quer que esteja a acontecer com ela, e eu sei que vocês podem ajudá-la. Assim como eu vos posso ajudar! – conclui, torcendo para que o seu pensamento flua o mais confiável possível. – Porquê? – pergunta-se a si próprio antes que alguém o interrompa. – Porque vocês estão aqui presos nesta outra dimensão, creio eu, às ordens do Joseph, cuja bondade e inocência não existe. Acreditando que lhe devem a vida, vocês sujeitam-se à vontade dele, por mais absurda que pareça… - receando que não o levem a sério, o mais certo, ainda assim Afonso prossegue. – Eu consigo provar-vos que ele não passa de um vampira traumatizado com a própria condição! Vive há séculos a cogitar uma qualquer forma de vingar a sua vida humana perdida em vez de se aceitar como é e viver, e tentar ser feliz, como eu…. – o rapaz surpreende-se com o seu próprio discurso, cujo tema parece saído de uma novela. – Em suma, vocês não são assim tão livres e poderosos como se julgam, porque estão deitados no fim da floresta, inanimados e a viver numa dimensão subconsciente, ou lá o que for…, e sujeitam-se aos caprichos de um homem que ao invés de fazer algo mais por si, acredita querer fazer um bem maior ao mundo… - e depois de repentinamente recordar que apenas tem dois míseros minutos, o rapaz inspira e expira, terminando. - Eu dou a minha vida por uma oportunidade de vos mostrar que estão errados em relação a ele, e que não é a vossa obrigação permanecer séculos assim para lhe satisfazer uma loucura! Eu dou a minha vida por isso, e eu em troca só quero que salvem a minha família, a minha filha…
- E se por acaso estiveres enganado, ou a enganar-nos… - pergunta o Naturale que aparentemente fala por todos.
Enquanto falava, Afonso movimentou-se de alguma forma que, inconscientemente, acabou mais próximo daquele jovem ruivo de olhos verdes intensos que lhe deu a palavra. Agora que estão frente a frente, Afonso consegue ver ainda mais semelhanças com Luna naquela criatura. Para além de os cabelos terem o mesmo tom castanho avermelhado, todos eles aparentam ter entre os dezassete e vinte e poucos anos. E a saudade volta a apertar, quando Afonso imagina o rosto da sua menina mesmo ali.
- Eu repito: dou-vos a minha vida e tudo o que ela implicar! – garante, temendo o risco.
- Palavras fortes… Proposta curiosa, quase tentadora… - comenta o jovem desconhecido, olhando Afonso nos olhos, como se analisasse a sua alma. – O meu nome é Augustus. – apresenta-se, inesperadamente.
…
Inexplicavelmente, para si, Henrique já se encontra num outro lugar que não é exterior, pois em vez de um céu recortado por árvores, o que vê é um teto de pedra.
O vampiro foi levado para a cripta, e ainda não conseguiu reconhecer o lugar, sentindo-se ainda atordoado, e demonstrando bastante confusão em relação a memórias dos últimos dias, queixando-se ainda de dor de cabeça.
- Henrique, estou aqui para te ajudar! – avança Cristina, pousando com firmeza a sua mala de trabalho, um autêntico kit móvel para tudo o que uma médica-cientista possa precisar.
- O quê que está a acontecer… - questiona ele, num murmúrio quase imperceptível.
Junto a ele, apenas Mais Antigo e a acabada de chegar Cristina, chamada com urgência. Vasco encontra-se atrás da porta, que se encontra fechada, na tarefa de impedir que alguém entre sem ser convidado.
Alguém, esse, que por ordem e vontade de Mais Antigo, se encontra neste momento com James, numa conversa algo difícil, mas assumida por todos e menos por si, como necessária. Beatriz sabe muito bem que está a ser sujeita a uma conversinha de psicólogo, e vai ser muito difícil conseguir arrancar alguma palavra que seja da sua boca. Por outro lado, Isabel está em lista de espera para a mesma consulta que, não muito diferente de Beatriz, assume como ridícula, enquanto Francisca a ampara pela tristeza de Afonso ainda não ter regressado.
- Tu mudaste, e a Cristina está aqui para tentar perceber o que se passa. – explica Mais Antigo, num tom sereno, que mantém Henrique calmo. – Lembras-te da Cristina? – pergunta, e vê o rapaz assentir afirmativamente, com dificuldade, ainda com um traço fino avermelhado no pescoço.
- Vou tentar anestesiar-te. – avisa a vampira, aproximando uma seringa com um líquido verde translúcido, disse ela ser uma base de verbena, onde adicionou prata tendo em conta o novo estado de Henrique. – Vai ser como se estivesses a dormir… – garante, tranquila. – Só para eu poder fazer alguns testes sem correr o risco de… - a própria tem algum receio em dizê-lo em voz alta. - Tenho a tua permissão? – questiona, por último, ao seu paciente.
E Henrique, que mal consegue ainda falar, acena outra vez afirmativamente, e olha a médica nos olhos, esforçando-se por parecer calmo e lúcido.
A vampira dá inicio então à sua missão e, com toda a delicadeza possível, espeta a agulha no braço esquerdo de Henrique, tal como se desse uma simples vacina a uma criança. Algo insegura, vendo o rapaz desvanecer lentamente, Cristina teme que algo não dê certo e espera alguns momentos para ter a certeza de que ele está bem, apenas inconsciente.
- Não sabia que conseguias anestesiar vampiros! – exclama Mais Antigo, num comentário sussurrado.
- E eu não sabia se iria conseguir anestesiar este vampiro… - responde Cristina, no mesmo tom. – Ora, vamos lá! – incentivando-se a si própria, remexendo na sua mala preta. – Se tudo isto começou realmente num laboratório, eu vou descobrir!
Observando-a preparar o seu laboratório improvisado na cripta, ao lado de uma cama também improvisada que normalmente está na arrecadação para situações idênticas a esta, Mais Antigo lança-lhe um olhar aprovador de incentivo e afasta-se um pouco, deixando-lhe mais espaço para trabalhar.
- Qual é o teu primeiro palpite? – questiona o vampiro superior.
- Talvez um vírus. – responde Cristina, estudando as possibilidades de um vírus criado em laboratório provocar tamanha metamorfose num vampiro. – Se eu estiver certa, e o novo ADN do Henrique for generoso comigo, talvez eu consiga desfragmentar os componentes desse suposto vírus e criar um antídoto. – explica, desejando que a sua esperança não seja em vão. - Mas primeiro, óbvio!, vou-me concentrar em perceber esta nova condição dele… - sendo mais realista. - … para que possamos ajudá-lo a sobreviver consciente e sem matar nenhum de nós…
- Quanto tempo vai demorar?
- Algum! – diz Cristina, enquanto trabalha, insinuando que será o mais rápida possível.
…
Frente a frente, dividindo uma mesma mesa no “Bloody Mary”, sozinhos, Beatriz e James, observam-se um ao outro há longos minutos de silêncio. Ele foi quase totalmente honesto sobre a razão de estarem os dois ali, por sugestão de Mais Antigo. E ela não é idiota.
Enfim, por fim, alguém interrompe o silêncio. Beatriz, de braços cruzados, apoia os cotovelos em cima da mesa de bar e atira um olhar intenso de ódio e impaciência que poderia matar se fosse a intenção. E uma das suas pernas, não que James precise de olhar debaixo da mesa para confirmar, não pára de se agitar, como se ela estivesse realmente a perder tempo.
- O Henrique está neste momento lá dentro, e eu estou aqui por que alma? – questiona, numa voz que se impõe. – Por acaso fazes ideia do quão sinistro é saber que ele está finalmente onde eu sei que ele está, e não posso ir lá confirmar? – insiste, levantado o tom.
James sorri. Finalmente alguém diz alguma coisa.
- Eu não preciso de falar sobre isto, eu não quero falar sobre isto, e eu não vou ficar aqui nem mais um segundo a olhar para um desconhecido que se acha merecedor de me ouvir sobre e conhecer os meus problemas através de mim mesma!
- Admites que estás com problemas, portanto…
- Tu é que vais ficar com problemas sérios se voltas a repetir esta gracinha de quereres ser meu psicólogo sem o meu próprio consentimento! – ameaça. - Não sou idiota ao ponto de falar com estranhos!
- Precisamente por ser um estranho, sou neutro nas história, pode ser mais fácil para ti desabafar… – defende-se James. – E eu não sou psicólogo… Ainda! – informa.
Beatriz lança umas gargalhadas forçadas, enquanto se levanta.
- E já queres exercer a profissão…?
No momento em que se prepara para sair, Beatriz é impedida por James, que levanta e a agarra precisamente no braço e no local exacto onde está ferida.
- Onde é que vais? Tu não podes…
Quando a sente tremer de dor, sem se queixar, o vampiro solta-a imediatamente, mas não toca no assunto.
- Não posso?! – questiona, disfarçando a dor quente no braço. – Testa-me! – provoca, olhando-o com desdém.
Continua…
[Boa Noite! Espero que gostem e que voltem sempre curiosos! Deixem também a vossa opinião e/ou sugestões...
PS: Vejam o António Camelier em Coração D'Ouro e em breve em Poderosas (vampiro de regresso à SIC!!!)
Bjs <3 a autora]