Lua Vermelha – 3ªtemporada - Episódio 71 - "Verdade ou Consequência"
Continuação…
- Beatriz, … - inquieto pela provocação, James empenha-se em demonstrar calma e sensatez. – … ele está fragilizado e confuso, e creio que provavelmente com duas personalidades opostas! – explica. – Não se sabe o que pode acontecer! – insiste o vampiro. - O que te custa esperar? – pergunta por fim, e pela expressão que vê no rosto de Beatriz, depressa entende que só pode ter cometido um grave erro com tal afirmação.
Um horror pasmo expressa-se no olhar da vampira, que não quer acreditar no que acabou de ouvir.
- Eu ouvi bem…? – questiona James, detestando-o a ele e à sua pergunta inocente. – “O que te custa esperar?” – repete Beatriz, indignada.
- Desculpa, não foi isso que… - o rapaz preparava-se para assumir o erro quando a vampira o interrompeu com firmeza.
- Há quanto tempo não vês a tua amiga, também desaparecida? – questiona, retribuindo com alguma malvadez. – Sim. Custa-me horrores ficar aqui à espera! – conclui, vendo alguma preocupação e saudade espelhar-se nele ao relembrar a amiga.
A razão já ela tem, mas James continua a acreditar que deve efectivamente evitar o encontro por enquanto. Beatriz impede-o mesmo antes de ele tentar, apenas com um olhar severo, mesmo ameaçador. Depois, garante:
- Eu não vou causar distúrbio!
Beatriz vira-lhe então as costas e sai.
…
- E eu sou o Afonso! – apresenta-se, após Augustus. – Algo que já devem saber…
- Nós sabemos muitas coisas, é um facto… - pronuncia-se uma voz feminina. – Outras escolhemos não querer saber! – termina, delicada.
Afonso procura pela dona daquela voz agridoce, agradável mas algo suspeita. Contudo, apenas quando a jovem fala uma segunda vez, apresentando-se, é que o pai de Luna consegue identificá-la.
- O meu nome é Valerie. – afirma ela, num meio sorriso animado e um olhar aventureiro. – E estou ansiosa por saber tudo!
- Valerie! – Agustus repreende.
- Ficar à espera que decidas alguma coisa por todos nós, enquanto te divertes a desorientar esta criatura inocente com opiniões insinuadas sem significado… - apressa-se ela, pronunciando-se convictamente. - …, é a previsão de um próximo e longo futuro aqui! Como sempre! – numa pausa, Valerie observa Afonso sorrir ligeiramente, ainda nervoso, e por momentos imagina se a filha dele, Luna, terá algo em comum consigo. – Aliás! – prossegue. – Imagino o que será, se algum dia sairmos daqui, desta prisão espiritual na qual aceitámos viver… - comenta, preparando o sarcasmo. – Provavelmente nem saberemos como usar os nossos corpos!
- A verdade é que não temos nada a perder! – uma outra voz pronuncia-se em apoio, Márcio.
Afonso observa o seu redor, e todos os restantes acordam de uma suposta meditação. Incrivelmente parecidos com a sua filha, uma única raça.
- A verdade é que já perdemos muita coisa desde que estamos aqui, presos nos nossos próprios corpos, a favor de…! – reforça Valerie, persistente.
- Não estamos presos! – corrige Augustus, algo despeitado. - A liberdade e o poder do espírito ultrapassam as capacidades e os prazeres do corpo. Já deviam saber disso! –repreende.
Em silêncio, por achar mais correcto e sensato dar-lhes espaço para pensar e discutir sobre os próprios interesses, direitos e deveres, Afonso analisa cada um deles, olhando-os discretamente, ouvindo-os. Acaba por concluir que Augustus, provavelmente, é o mais velho ou mais experiente, um mentor talvez.
- Nós devemos a nossa vida ao Joseph. – insiste ele, com o devido respeito.
- E no entanto não temos vivido! – considera Valerie, cujos olhos brilham na expectativa de mudança.
- Concordo! – assume Márcio.
Afonso nota que os olhos do rapaz diferem dos dos restantes, por serem negros. Ainda assim um brilho especial torna-os amigáveis.
- Eu garanto que não se vão arrepender… - Afonso intervém, relembra a própria presença.
- Será? – Augustus impõe-se novamente.
- Eu sei a verdade! – assegura com honestidade. – Como poderia eu arriscar tudo se assim não fosse? Não estou em condição para brincadeiras!
Sentindo-se observado, como se apenas com o olhar vissem o seu interior, a sua verdade, Afonso ainda assim prossegue, sem nada a perder.
- Deixem-me dar-vos a saber, tudo aquilo que escolheram não saber! – termina.
Alguma dúvida em arriscar ainda se espelha claramente no rosto de Augustus e alguns outros Naturales. Por outro lado, há aqueles que de tão entediados que estão com a vida, anseio pela mínima hipótese de arriscar tudo.
- Vamos, Augustus! – incentiva, Márcio, impaciente. - Isto é como “Verdade ou Consequência!”, mas todos jogamos pela verdade enquanto apenas um arrisca sofrer as consequências! – ainda que em jeito de brincadeira, a oportunidade que Márcio insiste em confiar a Afonso é muito séria.
- Comparas tu um assunto sério, que nos pode levar a trair a confiança daquele que nos salvou, a um joguinho de crianças…! – repreende uma outra voz feminina, Martina, madura e autoritária, manifestando desagrado.
Valerie não consegue ficar sem se pronunciar perante a repreensão.
- E daí? E se arriscarmos mesmo tudo? Até trair a confiança do Joseph? – questiona, indignada. – A verdade é que ele tem abusado da nossa boa vontade há séculos e ainda ninguém o acusou por isso!
- Chega! – Augustus termina a discussão. – Se é para haver acordo, serão minhas regras! Estás disposto? – propõe a Afonso.
- Quais são as regras?
Márcio solta um sorriso sorrateiro, sentindo o pensamento de Agustus, e atrevendo-se a falar por ele.
- Verdade ou consequência: todos pela verdade, e apenas um perante as consequências!
- Aceito! – um imaginário nó forma-se na garganta de Afonso ao assumir a responsabilidade, mesmo sabendo que não poderá sair a perder, mesmo sabendo a verdade.
…
- Já falaste com a Beatriz? – pergunta Francisca, assumindo que não esperava ver James ali em casa tão cedo.
- Agora é a vez da Isabel! – praticamente ignorando a pergunta, James só deseja que o seu falhanço com a ex-líder não seja tão óbvio.
- É óbvio que ela o dispensou, Francisca! – comenta Isabel, falsamente divertida, impiedosa. – Provavelmente nem lhe falou, e com certeza ameaçou-o, obrigando-o a deixá-la em paz! – conclui, indisposta.
- Isabel, querida… - Francisca dá sempre o seu melhor para manter a ordem.
- Foi, mais ou menos, isso! – assume o vampiro, num sacrifício profundo da sua alma.
Vasco não consegue evitar rir, ainda que em silêncio. Apenas Francisca percebe, e o seu olhar desaprovador, depressa o faz agir como o líder que deseja ser.
- Será preciso avisar que eu tenciono fazer o mesmo?
Continua…
Entretanto...
FELIZ NATAL (PTTR com Catarina Mago)
Have Yourself a Merry Little Christmas - Rock version by Pop Turns To Rock