Lua Vermelha – 3ªtemporada - Episódio 78 – “Comigo, ou contra mim!”
Continuação…
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Cristina fala distraidamente consigo mesma, murmurando apressadamente pensamentos e conclusões sobre o processo de hemodiálise que estará brevemente a realizar pela primeira vez num vampiro em circunstâncias desconhecidas. A maioria das suas conclusões aponta para que hajam uns oitenta e nove por cento de hipóteses de dar errado. Em contas, apenas onze por cento de chance de resultar. Mas Cristina é uma cabeça preocupada e responsável no momento, portanto talvez não sejam fiáveis os resultados.
Claramente, a vampira está demasiado distraída para notar que Henrique a observa, atento, bastante consciente, e que percebe mais do que nunca está sensível aos sentimentos e impulsos dos vampiros. Tal que a preocupação, ou aflição disfarçada de razão, de Cristina chega a Henrique com uma energia tal e inexplicável, que parece duplicar.
E os olhos de Henrique escurecem ainda mais, e as íris dilatam, e ele responderá aos seus instintos independente do que isso possa significar.
Levanta-se, num silêncio brusco. Cristina não daria por isso, se pelo canto do olho não tivesse notado uma sombra nítida em movimento. Mas Henrique não lhe dá hipótese, agarra-a e atira-a para longe, sem delicadeza. Ela cai, bate com a cabeça e escorrega uns metros no chão de pedra fria e lisa da cripta.
A sua reacção animalesca torna surpreendente a forma como se aproxima do ouvido da ex-Líder dos vampiros e murmura qualquer coisa imperceptível a outros ouvidos. Voraz, aperta com todas as suas forças sobre-humanas, e sobre-vampiricas, o pedaço de tecido que estanca o sangue no braço da jovem, tanto que ela reage ligeiramente arqueando a coluna com dor. É então que ele se aproxima das marcas de dentes que outro vampiro terá deixado na pele mármore dela, agora arroxeada, e esforçando-se por não pensar, crava os seus no mesmo lugar.
Nesse instante, Cristina levanta-se de mão no rosto e assiste. Imediatamente percebe que Henrique está mais do que consciente, e tentar sugar o veneno de outro do sangue de Beatriz com um êxito ainda não garantido, mas certamente com mais eficácia do que uma máquina.
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Praticamente imune às provocações da minoria, Joseph mantém-se firmemente apoiado pela maioria que não questiona as suas ideias máximas sobre a destruição dos vampiros acima de tudo.
- Quando vos resgatei… - diz Joseph entre muitas coisas que já havia dito, e ironicamente acentuando a palavra “resgatei”, como se houvesse salvo alguém da vida. - … eu queria criar uma família que lutasse pelo mesmo propósito: o fim dos vampiros! – lembra, como se alguma vez tivesse pedido a opinião de alguém. - Nós temos praticamente o mesmo sangue, somos filhos da Luz Eterna! Achei que isso fosse claro o bastante… - continua, com tamanha razão na voz.
Mas o desafio impõe-se. André mostra-se incansável, rebelde, enquanto Akira e Sandro o apoiavam decididamente. Tal valeu-lhes uns três apoiantes logo ao início, mas pouco relevantes aos olhos do líder.
- Diz-me uma coisa! – pede André, altivo como nunca. – O que vai acontecer connosco quando eventualmente os vampiros estiverem extintos? De quê que nos vamos alimentar? Ou de quem? De ninguém? – questiona sucessivamente, apressado, bravo.
- Não me digas que vamos todos morrer à fome, por “opção”? – apoia Sandro, algo trocista num momento de tensão.
- Esse foi o teu plano, o tempo todo, não foi? – atira Akira, conclusivo, fatal.
Joseph silencia-se, fixando-os com um olhar drástico. E mais um novo vampiro vai para o lado dos rebeldes!
- Isto é a sério, Jo? – quetiona, incrédulo com o silêncio do líder.
O rapaz é baixo, moreno, bem constituído, com uns olhos cinzentos brilhantes inacreditáveis.
– O teu silêncio parece-me uma terrível confirmação. – com isto, uma jovem mulher parecidíssima com ele, mas cabelos compridos, aproxima-se.
Os dois vampiros são irmãos gémeos. E está claro que ficarão juntos.
- Now, I’m pissed of! – murmura Joseph com desdém, e gozo na voz.
Os seus olhos vermelhos sangue, e as suas pupilas dilatam monstruosamente.
– Ou estão comigo, ou estão contra mim! – declara.
O grupo de rebeldes mantém-se resistente. Ao todo são oito novos vampiros que se rebelam perante o grupo. André, Akira e Sandro, com cinco conquistas. Somando-se os dois irmãos gémeos morenos, uma mulher com um cabelo prateado raro, alta e magra, uma jovem rapariga nos seus vinte anos de aparência, cabelos cobre e olhos negros, e um vampiro que poderia ter sido irmão de James Dean – quem sabe?!
- Lucius, my friend! – chama Joseph, com um sorriso malicioso. – Sabes o que acontece aos traidores! – não é uma pergunta, mas uma afirmação. – Trata deles! – pede. - Amanhã saímos, finalmente! – anuncia, saindo da sala.
Aquele que parece ser o maior aliado de Joseph, dá uma ordem clara, e um círculo de força nasce em torno dos oito insubordinados.
Joseph afasta-se progressivamente da sala, e sorri enquanto ouve os sinais de uma luta certamente ganha por maioria.
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O vampiro dirigia-se ao exterior, e ainda conseguia ouvir gritos de manifestação dos traidores. Depois um silêncio, e Joseph fica com a certeza de que os oito foram entregues ao porão mais escuro, húmido, e impenetrável da casa.
Enquanto caminha apressadamente pela relva macia no exterior, um movimento estranho, uma sombra talvez, chama a sua atenção para o céu azul, limpo. Um raio proveniente de nenhures, pois não há nuvens que anunciem tempestade, rasga o céu surpreendentemente. Segundos depois, uma força projectada em todas as direcções, faz-se sentir. Joseph cai no chão duro de uma terra agora seca, que ainda há pouco era maravilhosamente verde, depois de ter sido elevado e projectado com tudo o que era leve e móvel alguns metros para trás.
…
– Já não há nada que os separe e proteja do mundo exterior, e Joseph não descobrirá enquanto nós não quisermos…! - pronuncia Augustus, o máximo dos Naturales, despeitado com as ideias de família de Joseph, com o seu ódio cada vez mais insuportável, e com tudo o que havia sido dito e feito naquele salão.
O já novo vampiro só vai parar quando o último vampiro estiver morto, e o próprio tenciona ser o último.
- Podemos avisar a minha filha? – pergunta Afonso, orgulhoso com a forma como despiu psicologicamente Joseph enquanto este se vangloriava do seu projecto familiar absurdo. Os Naturales estão do seu lado agora.
- Tu podes! – diz Aurora – E não te esqueças de avisar que têm um dia de vantagem nesta luta!
Continua…