Lua Vermelha - 3ªtemporada - Epis 86 - "Encontro com Fantasmas"
Continuação…
Coisas estranhas acontecem todos os dias, tão perto ou tão longe, sem ninguém dar por elas. Assim como nasce e morre gente todos os dias. Assim como uns vivem descansadamente e outros desgraçadamente todos os dias, em toda a parte do mundo.
Os bons apontam os maus, e os maus verão sempre os bons como maus também. É talvez apenas uma questão de perspectiva. E no fim de contas, todos acabamos por ser o mesmo. Bons e maus. Se somos mais de um lado e menos de outro, dependerá da forma como usamos os nossos dois lados. Mas seremos sempre, bons e maus, num só.
Como ia dizendo, coisas estranhas acontecem todos os dias, em qualquer lugar. E nesta história não será diferente.
A fronteira portuguesa em …. No Alentejo está calma, como seria de esperar. É noite, e a vizinhança mais próxima fica para lá do horizonte, após a sombra longínqua dos carvalhos. Do outro lado, pouco muda, a não ser o país. O céu está limpo, as estrelas brilham e a maior de todas está bem lá no alto, iluminando a noite feita de brisa. Sussurros de animais selvagens ouvem-se, assim como os seus passos apressados em direcção às suas tocas ou ninhos. Eles sentem o predador. Os predadores.
E há vampiros por toda a parte.
Isabel é a cabecilha do batalhão que veio desde Sintra até ali. Mas o batalhão não se faz notar. As aparências transparecem um grupo pequeno, que nem uma comunidade inteira faria. O número aparentemente reduzido torna-os indefesos. E sabem disso, e também não o fazem parecer. Querem mostrar a segurança que à primeira vista não têm. E mal podem esperar para usar toda a sua energia ao comando de Isabel.
Mesmo atrás da nascida Jaguar, está Luna, fitando a luz intensa do astro da noite. Seguem-se Mais Antigo e Vasco. Da família Azevedo, apenas Vânia e Pedro. Restando Verónica, Cristina, Octávio, James, e a restante comunidade residente em Sintra. Não sendo assim tantos, trazem alguns dos forasteiros que chegaram há dias, dispostos a lutar ao lado de Isabel, entre eles Solange. E pela primeira vez em muito tempo, os vampiros seguram armas.
Vânia está impaciente. Olhar para ela antes de um confronto, é o mesmo que olhar para Henrique, o seu criador.
- Acalma-te. Está quase. – murmura Luna, sem tirar os olhos do céu.
No mesmo instante, Isabel passa os olhos pelo horizonte circundante. E não leva muito tempo até que surjam as sombras hostis dos novos vampiros.
Antes mesmo de o conseguir ver, Isabel ouve as suas gargalhadas demoradas, algo alienadas. Joseph é ainda uma sombra. Mas de um momento para o outro deixa de o ser.
Está transformada, tal como os outros. E a primeira imagem que vem à cabeça de Isabel é a recordação de já ter visto Henrique como ele. Será que aquilo tem solução? A jovem esforça um sorriso provocador, enfrentando a presença de Joseph a menos de dois metros de si.
- Coitadinhos! – ri o vampiro, e o seu sotaque diabólico apenas piorou. – Vocês parecem… como é que digo… - e gargalhada a pensar. – Minhocas num anzol!
Os novos vampiros que o seguem, tão assustadores em aspecto quanto ele, com as presas salientes e as veias roxas a saltar-lhes para fora do pescoço e rosto, parecem autómatos. Exactamente como Luna garantiu, autómatos que seguem as vontades de quem os criou, completamente alheios a tudo o que não seja vontade de Joseph. E a primeira vontade dele foi ordenar que Afonso morresse primeiro que todos os outros.
Isabel observa-os pelo canto do olho, sem ceder perante Joseph, e depressa percebe que eles procuram Afonso, e só a ele atacarão, até que Joseph dê outra ordem. E então faz por esquecer o medo, e transforma-se naquilo que nasceu para ser. A pequena Jaguar que em tempos quase surgiu em si, dá um ar da sua graça finalmente.
- Sabes o que acontece se morderes a minhoca, não sabes? – e sorri, lançando-lhe um olhar que é tudo menos inocente e medroso.
Isabel trouxe à sua memórias os últimos momentos em que esteve com a pai, e tenta imitá-lo. Conseguindo.
O vampiro não esconde uma certa surpresa na mudança repentina de atitude. Atitude, essa que lhe sente a correr nas veias.
- Os teus antepassados também eram fãs de uma boa provocação. – afirma, sedento. – É uma pena que o sangue deles corra nas veias de uma ingrata! Foste um desperdício.
A amada de Afonso aproxima-se, reinando o momento.
- Queres mesmo falar de desperdício? – questiona, olhando-o nos olhos, procurando algo.
E Luna está mesmo atrás dela, prontíssima.
- O que dizer de ti mesmo? – atira, como uma cuspidela.
E Joseph não gosta.
Em menos de nada a sua mão forte atira-se ao pescoço de Isabel.
- Não há tempo a perder… - murmura Luna, enquanto os seus olhos absorvem a cor brilhante da Lua.
Um grunhido.
Joseph dá por si no chão. Embateu com tanta força que por momentos deixou de sentir as pernas. Quando abre os olhos, qual espanto.
- Até parece que viste um fantasma…
Morgan reconhece-a. É Beatriz. Que parece ter caído do céu para o deitar ao chão e lhe espetar um punhal no estômago.
- Falhaste! – grunhe.
É Beatriz. Ou uma parte dela. Joseph não percebe a voz distorcida, até que vê nos olhos dela e na sua força impossível, duas pessoas. Como será possível?
- Eu não falhei! – ela, ou eles, levantam-se para darem espaço ao líder dos novos vampiros. Luna e Isabel surgem de ambos os lados. – Ainda não é momento.
- Saudades minhas? – e atrás de Joseph, surge Henrique, tal e qual como ele, mas contra ele.
Por entre os quatro, Joseph vê o batalhão de Isabel duplicar, triplicar. Vampiros que nunca viu na vida odeiam-no, Martha e Pilar estão com eles, assim como os fugitivos Brian, Jasmine e Victorious.
E os seus? O que se passa com os seus? Porque não contra-atacam imediatamente?
Luna sabe o que ele pensa.
- Agora!
E dá a ordem.
Continua…