Lua Vermelha – 3ªtemporada - Episódio 89 – “Alma” PENÚLTIMO
Continuação…
A energia que flui através daquela corrente de almas é pura e ilumina o espaço. É brilhante, ofuscante, quente, e é indolor, inexplicavelmente acolhedora como um abraço.
Através da luz, Augustus é o único que pode abrir os olhos e ver para lá dos corpos dos novos vampiros, ver-lhes a alma. Para sua tristeza, eles irradiam escuridão à sua volta. À excepção daqueles que se afastaram de Joseph porque tinham algo verdadeiro porque lutar e viver, todos os outros estão vazios.
A Mãe Natureza decide levar consigo toda aquela escuridão e todo aquele vazio, e Augustus vê.
Ele tem a capacidade para sentir tudo o que está verdadeiramente aacontecer, e ter a certeza de que todas aquelas almas terão outra oportunidade, outro propósito. É esse um dos seus dons, ver para lá desta vida.
Não é mentira, ou mito, ou invenção, que na Natureza nada desaparece ou se destrói, mas tudo se transforma.
No entanto, Joseph é um caso diferente. A sua aura não está negra, nem vazia, como as do exército que criou. Está cinzenta, triste, doente, e por isso mesmo ainda é uma alma. E as almas podem mudar, se quiserem, com ou sem ajuda.
A Natureza sabe que ele não tem nada, nem ninguém, porque não soube ser capaz de amar. Ele não soube sequer estimar a vida que lhe foi dada, porque imediatamente a recusou e tudo o que com ela viesse. E Augustus percebe então que a história daquela criatura está incompleta, e que deste dia em diante não continuará a ser escrita da mesma forma.
…
- Estão mortos? – sussurra Luna, quase emocionada, claramente detestando a ideia de morte.
- Não. – apressa-se Augustus.
Ouvem-se apenas as vozes de ambos e as respirações forçadamente calmas dos restantes.
- A morte não é mais que uma transformação. – esclarece, ensinando a primeira de muitas coisas àquela jovem menina. – Eles são agora algo melhor, e têm um novo propósito.
- Qual? – questiona ela, insaciável.
- Aquele que lhes for entregue. – termina.
Interrogando-se sobre a resposta, Luna aceita-a ainda assim.
…
Resta então Joseph, de olhos esbugalhados, de joelhos sobre o relvado, perdido na sua loucura, como sempre, e agora sabendo que é observado por todos.
O silêncio permanece, por enquanto.
Isabel sente o calor da mão que aperta, a de Luna, e encara Joseph, interrogando-se com alguma indignação sobre o porquê de ele não ter sido levado como os outros, já que não faz falta.
Ele ergue-se, acompanhando o pensamento dela, e os seus olhos numa outra direcção, não mais perdidos.
- Tu! – grunhe, e corre em direcção a Beatriz.
Mas é para Afonso que ele está a olhar, e atravessará Beatriz e todos os que surgirem para chegar até ele.
Na incógnita, Beatriz recua para trás, sensata, agora que já não tem o poder emprestado de Afonso e voltou a sentir os músculos a latejar no lugar onde foi ferida e as náuseas do consequente envenenamento.
Quando Henrique estava próximo de se colocar entre eles, repara em Afonso, que surge repentinamente vindo de trás de Beatriz e empurra o irmão, afastando-o também de Joseph.
Já não se viam há tanto tempo… Mas o momento de pensar sobre isso ainda não chegou.
O olhar de Isabel brilha ligeiramente. Finalmente põe os olhos em Afonso, e ainda que todas as preocupações não tenham terminado, todas estrelas do céu não chegariam para descrever o brilho do seu olhar.
Luna, olha em redor, e satisfazendo a sua curiosidade vê os Naturales surgirem gradualmente atrás dos vampiros a quem emprestaram energia.
Por sua vez, Augustus surpreende Joseph a poucos centímetros de conseguir agarrar brutalmente o pescoço de Afonso, segurando-o pelos cabelos da nuca.
Mesmo sabendo que está sozinho e que perdeu, Joseph manifesta-se.
- O quê que vocês lhes fizeram? – grita. – Para onde é que eles foram?
- Como se isso te preocupasse… - comenta Augustus.
- Preocupa-me perceber porquê que não me levaram também! – manifesta-se, lutando contra a força de quem o arrasta.
Augustus ignora, e persiste em levá-lo até Verónica, que se aproxima já conduzindo a carrinha escura.
- Eu ainda vou acabar contigo, Alphonzo! – grunhe, inquebrável. – Com todos vocês!
Em meio à gritaria de Joseph, Isabel corre para alcançar os braços de Afonso, alheia a tudo. Este abraça-a com quanta força possui, aninhando-a no seu peito e beijando-lhe o cabelo. Ela quase desvanece de alegria e paz.
Verónica arrasta então correntes de prata pelo gramado verde, usando luvas claramente, e fica surpreendida ao reconhecer uma cara na multidão. André também a vê, e sente uma súbita saudade, mas tem dúvidas sobre se é mesmo quem pensa, ou uma ilusão. Verónica também se mantém concentrada no que deve fazer.
- Ouve, Augustus… - Joseph lembra-se de iniciar uma conversa amigável. – Os vampiros são monstros, tu sabes disso. Ajuda-me. – pede, atropelando-se nas palavras. – O mundo será melhor sem eles, e…
- Não, Jo. – interrompe o sábio. - O mundo será melhor no dia em que o ódio e a guerra não passarem de memórias ridículas num livro de história.
Entretanto, Henrique surpreende Beatriz com um abraço discreto. Um risco que decide tomar por necessidade. Ela sorri e encosta a cabeça no seu ombro.
Já Francisca limita-se a observar com imensa gratidão e recebendo as mãos de Vânia e Pedro nas suas, pensa no seu breve destino.
…
Aurora surge, sorrateira, junto de Augustus, depois deste ter atirado com um Joseph desesperado para dentro de uma carrinha revestida a prata no seu interior (cortesia de uma Luz Eterna extinta).
- Podíamos ter resolvido logo isto. – afirma, numa ilusão de interrogação. – Porquê que os deixaste lutar?
Augustos sorri como raramente, pensando que nada escapa mesmo à jovem, e responde em tom de brincadeira, apenas para lhe satisfazer a curiosidade insaciável.
- Nunca ouviste dizer, que só se conhece verdadeiramente uma pessoa, quando se luta com ela?
Ela ouve e aceita a resposta contrariadamente.
- Olha que é bem verdade! – insiste Augustus. – E aquelas criaturas não tinham mais do que um instinto de ódio irreversível e ingénuo a cada movimento. – terminando, mais sério.
Aurora, então, sorri.
Francisca desmaia.
Continua…
O PRÓXIMO E ÚLTIMO, SERÁ O MAIOR DE SEMPRE!
ATÉ BREVE!